No Mali: Desconhece-se paradeiro da Irmã Gloria, sequestrada há três anos na missão franciscana em Karangasso
Passam hoje, dia 8 de Fevereiro, exactamente 1096 dias desde que a Irmã Gloria Cecilia Narvaez Argoti foi sequestrada por jihadistas na missão franciscana onde vivia e trabalhava, em Karangasso, no Mali, relativamente perto da fronteira com o Burkina Faso.
Desde Setembro de 2018, quando foi divulgado um vídeo com a irmã e onde aparece também uma outra refém, a médica francesa Sophie Petronin, que não há qualquer notícia sobre esta religiosa colombiana de 57 anos de idade.
Gravado aparentemente no interior de uma tenda, nesse vídeo a Irmã Gloria, que pertence à Congregação das Franciscanas de Maria Imaculada, aparece a solicitar a ajuda do Santo Padre para a sua libertação, agradecendo-lhe por “se ocupar” do seu caso e pedindo-lhe também para não se esquecer da situação da “senhora Sophie Petronin, porque ela está muito doente”.
A maior parte do vídeo, que tem cerca de sete minutos de duração, é ocupado precisamente com Sophie Petronin, então com 75 anos de idade, a implorar a intervenção do presidente francês Emmanuel Macron, havendo momentos em que não consegue esconder as lágrimas.
O vídeo, a última prova de vida da irmã franciscana, termina com a religiosa a dizer que “faz todos os dias” a mala e prepara as suas coisas, pois “aguarda todos os dias” também pela sua libertação.
Desde que foi divulgado esse vídeo, já passaram cerca de vinte meses. Vinte meses de silêncio. Anteriormente tinham sido divulgados dois outros vídeos, em Julho de 2017 e em Janeiro de 2018. Ambos foram entendidos também como “prova de vida” que os terroristas estariam a produzir para o exterior, alimentando a expectativa de que as autoridades teriam estabelecido linhas de contacto para eventuais negociações com vista à libertação da irmã e dos outros reféns. Negociações que envolveriam pelo menos quatro países: Colômbia, França, Espanha e Vaticano. O primeiro vídeo – divulgado pelo auto-proclamado “Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos”, uma organização terrorista ligada à Al Qaeda – é disso exemplo pois são filmados além da irmã outros cinco reféns estrangeiros, entre os quais Beatrice Stockly, uma missionária suíça, a francesa Sophie Petronin, o sul-africano Stephen McGowan, o australiano Elliot Kenneth Arthur e o romeno Iulian Ghergut.
O ataque dos jihadistas de 7 de Fevereiro de 2017 à casa das Irmãs Franciscanas em Karangasso revelou toda a coragem da irmã Gloria. Os pormenores do que aconteceu nesse dia seriam revelados mais tarde numa entrevista a uma das religiosas que vivia na comunidade no Mali.
Falando à rádio espanhola Cope, a Irmã Janet explicou que os terroristas pretendiam sequestrar outra religiosa, mais nova, mas foi a Irmã Gloria que pediu para ir em seu lugar. “Os homens entraram na sala, apontaram uma arma à irmã mais nova e chamaram as outras. Quando a Irmã Gloria percebeu que não se tratava apenas de um assalto, saiu”, explicou Janet aos jornalistas. “Os homens começaram a fazer perguntas e obrigaram-nas a trazer o passaporte… A Gloria percebeu que era um rapto e começou a conversar com eles, dizendo para não levarem a irmã mais jovem, que se precisassem de alguma coisa seria com ela.” Esse gesto altruísta revelou a personalidade da irmã Gloria. “Nós vemo-la como uma heroína, porque se entregou pela irmã mais nova”, acrescentou ainda Janet aos microfones da rádio espanhola. Também a família da Irmã Gloria a vê como uma verdadeira heroína. A última vez que falaram com ela foi em Dezembro de 2016, dois meses antes do sequestro. Na altura, Gloria Cecilia confessou que estava a planear regressar ao seu país, à Colômbia, e que iria pedir a transferência à sua comunidade.
Para as populações locais, o sequestro revelou-se estranho e até inexplicável. Como pode querer fazer-se mal a um punhado de mulheres consagradas a Deus e ao próximo e que estavam ali apenas a ajudar em áreas bem necessárias, como o apoio na saúde, na alimentação e na alfabetização?
De facto, há mais de uma década que as Irmãs Franciscanas de Maria Imaculada desenvolviam a sua missão no Mali procurando ajudar as populações mais carenciadas. O sequestro da irmã colombiana é apenas um exemplo da violência extrema que tem estado a atingir as comunidades cristãs não só no Mali mas também nos países da região, com destaque para o Níger e o Burkina Faso.
Ainda no ano do sequestro, 2017, o Padre Edmond Dembelé, secretário-geral da Conferência Episcopal do Mali, dava o exemplo da Diocese de Mopti, situada no centro-norte do país, onde três igrejas católicas tinham sido “visitadas e ameaçadas” por grupos jihadistas que impediram os fiéis de se reunirem em oração e proibiram o toque dos sinos nos templos. Desde então, tem havido uma sucessão de ataques cada vez mais violentos.
A porosidade das fronteiras transforma as vastas regiões de África em campos férteis de actuação de grupos terroristas. É o que acontece entre o Mali, o Burkina Faso e o Níger. No último Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, publicado pela Fundação AIS e avaliando o período compreendido entre junho de 2016 e Junho de 2018, refere-se que a situação de segurança no Mali “permaneceu muito instável” e que “vários grupos terroristas islâmicos, como por exemplo o autoproclamado Estado Islâmico ou a Al-Qaeda no Magrebe (AQIM), fizeram valer a sua influência neste país”. O Relatório sublinha que “a frágil situação de segurança” que se vive neste país “causa problemas às minorias religiosas, que, devido aos seus reduzidos números, estão nalguns aspectos entre os grupos mais vulneráveis na sociedade”.
Desde Setembro de 2018, quando foi divulgado um vídeo com a irmã e onde aparece também uma outra refém, a médica francesa Sophie Petronin, que não há qualquer notícia sobre esta religiosa colombiana de 57 anos de idade.
Gravado aparentemente no interior de uma tenda, nesse vídeo a Irmã Gloria, que pertence à Congregação das Franciscanas de Maria Imaculada, aparece a solicitar a ajuda do Santo Padre para a sua libertação, agradecendo-lhe por “se ocupar” do seu caso e pedindo-lhe também para não se esquecer da situação da “senhora Sophie Petronin, porque ela está muito doente”.
A maior parte do vídeo, que tem cerca de sete minutos de duração, é ocupado precisamente com Sophie Petronin, então com 75 anos de idade, a implorar a intervenção do presidente francês Emmanuel Macron, havendo momentos em que não consegue esconder as lágrimas.
O vídeo, a última prova de vida da irmã franciscana, termina com a religiosa a dizer que “faz todos os dias” a mala e prepara as suas coisas, pois “aguarda todos os dias” também pela sua libertação.
Desde que foi divulgado esse vídeo, já passaram cerca de vinte meses. Vinte meses de silêncio. Anteriormente tinham sido divulgados dois outros vídeos, em Julho de 2017 e em Janeiro de 2018. Ambos foram entendidos também como “prova de vida” que os terroristas estariam a produzir para o exterior, alimentando a expectativa de que as autoridades teriam estabelecido linhas de contacto para eventuais negociações com vista à libertação da irmã e dos outros reféns. Negociações que envolveriam pelo menos quatro países: Colômbia, França, Espanha e Vaticano. O primeiro vídeo – divulgado pelo auto-proclamado “Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos”, uma organização terrorista ligada à Al Qaeda – é disso exemplo pois são filmados além da irmã outros cinco reféns estrangeiros, entre os quais Beatrice Stockly, uma missionária suíça, a francesa Sophie Petronin, o sul-africano Stephen McGowan, o australiano Elliot Kenneth Arthur e o romeno Iulian Ghergut.
O ataque dos jihadistas de 7 de Fevereiro de 2017 à casa das Irmãs Franciscanas em Karangasso revelou toda a coragem da irmã Gloria. Os pormenores do que aconteceu nesse dia seriam revelados mais tarde numa entrevista a uma das religiosas que vivia na comunidade no Mali.
Falando à rádio espanhola Cope, a Irmã Janet explicou que os terroristas pretendiam sequestrar outra religiosa, mais nova, mas foi a Irmã Gloria que pediu para ir em seu lugar. “Os homens entraram na sala, apontaram uma arma à irmã mais nova e chamaram as outras. Quando a Irmã Gloria percebeu que não se tratava apenas de um assalto, saiu”, explicou Janet aos jornalistas. “Os homens começaram a fazer perguntas e obrigaram-nas a trazer o passaporte… A Gloria percebeu que era um rapto e começou a conversar com eles, dizendo para não levarem a irmã mais jovem, que se precisassem de alguma coisa seria com ela.” Esse gesto altruísta revelou a personalidade da irmã Gloria. “Nós vemo-la como uma heroína, porque se entregou pela irmã mais nova”, acrescentou ainda Janet aos microfones da rádio espanhola. Também a família da Irmã Gloria a vê como uma verdadeira heroína. A última vez que falaram com ela foi em Dezembro de 2016, dois meses antes do sequestro. Na altura, Gloria Cecilia confessou que estava a planear regressar ao seu país, à Colômbia, e que iria pedir a transferência à sua comunidade.
Para as populações locais, o sequestro revelou-se estranho e até inexplicável. Como pode querer fazer-se mal a um punhado de mulheres consagradas a Deus e ao próximo e que estavam ali apenas a ajudar em áreas bem necessárias, como o apoio na saúde, na alimentação e na alfabetização?
De facto, há mais de uma década que as Irmãs Franciscanas de Maria Imaculada desenvolviam a sua missão no Mali procurando ajudar as populações mais carenciadas. O sequestro da irmã colombiana é apenas um exemplo da violência extrema que tem estado a atingir as comunidades cristãs não só no Mali mas também nos países da região, com destaque para o Níger e o Burkina Faso.
Ainda no ano do sequestro, 2017, o Padre Edmond Dembelé, secretário-geral da Conferência Episcopal do Mali, dava o exemplo da Diocese de Mopti, situada no centro-norte do país, onde três igrejas católicas tinham sido “visitadas e ameaçadas” por grupos jihadistas que impediram os fiéis de se reunirem em oração e proibiram o toque dos sinos nos templos. Desde então, tem havido uma sucessão de ataques cada vez mais violentos.
A porosidade das fronteiras transforma as vastas regiões de África em campos férteis de actuação de grupos terroristas. É o que acontece entre o Mali, o Burkina Faso e o Níger. No último Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, publicado pela Fundação AIS e avaliando o período compreendido entre junho de 2016 e Junho de 2018, refere-se que a situação de segurança no Mali “permaneceu muito instável” e que “vários grupos terroristas islâmicos, como por exemplo o autoproclamado Estado Islâmico ou a Al-Qaeda no Magrebe (AQIM), fizeram valer a sua influência neste país”. O Relatório sublinha que “a frágil situação de segurança” que se vive neste país “causa problemas às minorias religiosas, que, devido aos seus reduzidos números, estão nalguns aspectos entre os grupos mais vulneráveis na sociedade”.
Departamento de Informação da Fundação AIS | ACN Portugal
Comentários