A
Igreja Católica, após a celebração do concílio ecuménico
Vaticano II, tem mantido sempre uma atitude de apreço pelas
comunicações sociais. E incentiva permanentemente todas as
instâncias eclesiais ao uso das possibilidades que as novas
tecnologias nos proporcionam para comunicar com as pessoas, ao perto
e ao longe, dando assim cumprimento ao mandato do seu Senhor de
anunciar a Boa Nova a todos os povos. E, se nem sempre está na
vanguarda das tecnologias da comunicação, é porque ou não dispõe
dos necessários recursos humanos e económicos ou não alcançou
ainda os meios para equacionar os graves problemas que lhes estão
associados, de forma a evitar os efeitos negativos por elas gerados.
Atentos
aos progressos alcançados no âmbito da comunicação social, os
sucessivos papas todos os anos têm publicado uma mensagem, por
ocasião do Dia Mundial das Comunicações Sociais, que se celebra na
solenidade da Ascensão. E são já cinquenta e duas as mensagens
publicadas anualmente. Com elas, os pontífices pretendem dar um
contributo para que as grandes causas da humanidade encontrem eco nos
meios de comunicação social. Objectivo muito nobre mas difícil de
alcançar. Com efeito, os meios de comunicação social estão
sujeitos a múltiplas tentativas de manipulação, por parte de
poderosas organizações comandadas por interesses económicos,
políticos e ideológicos. Mas os pontífices persistem
continuadamente no mesmo propósito. Este ano o papa Francisco
deteve-se a analisar a origem, a natureza, os efeitos e os antídotos
das fake news.
O
tema da autenticidade e da veracidade da informação já foi
estudado na antiguidade clássica, tempo em que os actores e os
poetas recorriam ao processo da mimese para incutir um cunho de
autenticidade às comunicações por eles feitas em palco ou na
escrita. Da mesma forma, nos nossos dias, muitos utilizadores dos
meios de comunicação social e, nomeadamente, das redes sociais,
continuam a recorrer a processos semelhantes com o intuito de levar
os seus interlocutores a aceitar como verdadeiras informações
distorcidas, erróneas ou manipuladas e, dessa forma, alcançar
benefícios pessoais.
Acresce
ainda que a difusão das «falsas notícias» está muito facilitada.
Tanto porque usam discursos evasivos e subtis que dificultam o seu
reconhecimento como porque as tecnologias da comunicação são muito
velozes e não assumem a responsabilidade dos conteúdos
transmitidos. Além disso, as redes sociais podem actuar em circuitos
limitados, dificilmente controláveis, favorecidos pela insaciável e
natural avidez de novas informações. Ora, essas e outras são
circunstâncias facilitadoras da infindável difusão das fake news,
que exploram as emoções, podem gerar intolerância, promover o ódio
e conduzir à falsidade.
Na
actualidade, as «notícias falsas» estão a tornar-se uma espécie
de praga comunicacional, com efeitos muito alargados e devastadores.
Será que existe um antídoto para as combater? Antes de mais, diria
que para encontrar o antídoto é preciso conhecer os interesses que
as justificam e os mecanismos comunicacionais a que recorrem. Só
assim se poderá desmontar a «lógica da serpente» em que se
fundamentam. Por outro lado, o combate das fake news terá de ser
feito a longo prazo, por um eficaz processo educativo. Educação
para a VERDADE, educação para PAZ e educação para a
RESPONSABILIDADE. A libertação da falsidade alcança-se pelo
discernimento da verdade, que brota das relações livres entre as
pessoas e promove a comunhão interpessoal. Os jornalistas que, por
deontologia profissional, estão obrigados a serem responsáveis no
modo de agir, não se podem esquecer que no centro das notícias
estão as pessoas. E lidar com a vida das pessoas exige exactidão
das fontes e promoção do bem. É por isso que são convidados a
promover um jornalismo de paz, ao serviço das pessoas, promotor da
verdade, sem fingimentos.
Évora,
8.05.18
+José,
Arcebispo de Évora
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