
Em Serpa, no
distrito de Beja, o grupo de sete parisienses vai “conviver com os
grupos e trocar experiências e formas de cantar diferentes”, e vai
fazer gravações com 17 grupos, explicou à Lusa o único português
do Rancho de Cantadores de Paris, Carlos Balbino.
“Este é o
primeiro CD franco-português ou luso-francês de cante alentejano,
porque nós somos um grupo de Paris e eu sou o único português no
grupo. Somos o primeiro grupo estrangeiro de cante alentejano que vai
fazer um CD. Para nós é uma grande alegria, mas temos a noção
que, para o cante alentejano, é um grande passo”, sublinhou Carlos
Balbino, também ensaiador do grupo.
O objetivo é lançar
o disco em 2019, com uma editora francesa, procurando ser um álbum
de cante alentejano “o mais fiel possível ao cante tradicional
contemporâneo”, ainda que haja “alguns grupos convidados que
começam a ter já uma nova interpretação do cante alentejano”.
“No CD, tentaremos
fazer a representação do cante alentejano atual. Por isso, nos
convidados, haverá artistas individuais que contribuíram muito para
o cante, como grupos de mulheres, homens, mistos, e de crianças, e
ainda grupos instrumentais. Ou seja, o cante alentejano em todas as
suas vertentes”, vincou.
As gravações vão
acontecer no Musibéria, centro internacional de músicas e danças
de raiz ibérica, e vai haver um repertório “muito vasto e muito
heterogéneo”, em que foram escolhidas “modas que fazem parte do
património de cada grupo coral, e que estão ligadas à forma de
cantar de cada região”.
“Já há CD de
cante alentejano, já há documentação sonora muito, muito boa. A
nossa ideia é tentar fazer uma coisa diferente, unir todos os grupos
de cante alentejano que nos inspiraram, e termos a nossa participação
em cada moda para termos o nosso toquezinho”, descreveu.
Na prática, as
músicas vão ter “partes de 'solo' que vão ser cantadas pelos
membros dos Cantadores de Paris, e outras que vão ser cantadas pelos
grupos convidados e, na parte coral, vai cantar toda a gente”.
Quanto aos sotaques
estrangeiros, Carlos Balbino adiantou que quase “não se percebe
que são estrangeiros”, porque “houve um grande trabalho de
pronunciação” ao longo do ano, que começou com a aprendizagem
das letras em português, acompanhada pela tradução em francês, e
depois “eles também cantam por instinto”.
O Rancho de
Cantadores de Paris nasceu em Paris, em 2016, com a criação de uma
peça de teatro, "La Dernière Corrida" ("A Última
Tourada"), da companhia Rêves Lucides, na qual Carlos Balbino
levou ao palco o cante alentejano e o tema dos forcados nas touradas
à portuguesa.
Esta "trupe de
teatro contemporâneo, pluridisciplinar", já tinha feito um
primeiro espetáculo, "L'Architecte des Rêves", em 2013,
na qual Carlos Balbino recorria ao canto polifónico russo, numa peça
sobre a sociedade russa durante a construção dos Jogos Olímpicos
de Inverno.
Entretanto, o ator e
encenador português criou, em Paris, a primeira escola de cante
alentejano no estrangeiro, que ensaia numa associação do 19.°
bairro da capital, L'Espace 19, e que tem alunos de diferentes
nacionalidades.
O Rancho de
Cantadores de Paris foi retratado no documentário "Os
Cantadores de Paris", do realizador Tiago Pereira, que se
estreou no DocLisboa, no ano passado, e que conta com atuações
improvisadas em locais emblemáticos de Paris e em Serpa.
Carlos Balbino, de
30 anos, estudou teatro na Escola Profissional de Teatro de Cascais,
na Worcester College of Technology, em Worcester, na East 15 Acting
School, em Londres, e na École Internationale de Théâtre de
Jacques Lecoq, em Paris.
Desde 2011, o
português vive na capital francesa, onde vai fazer um mestrado em
etnomusicologia e uma tese sobre cante alentejano.
O cante alentejano
foi classificado como Património Cultural Imaterial da Humanidade,
pela UNESCO, a 27 de novembro de 2014, graças a uma candidatura
apresentada pela Câmara de Serpa e pela Entidade Regional de Turismo
do Alentejo e Ribatejo.
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